Uma descoberta incrivelmente rara no fundo do mar foi feita na área onde a Bíblia diz que Moisés abriu o Mar Vermelho

Você já imaginou como é o fundo do Mar Vermelho? Apesar de ser um dos mares mais famosos do mundo, sua paisagem submarina guardava segredos surpreendentes até pouco tempo atrás. Em 2022, uma equipe de cientistas explorou as profundezas do Golfo de Aqaba, uma região ao norte do Mar Vermelho, e fez uma descoberta que mistura ciência, história e até um pouco de mistério: piscinas de salmoura a mais de 1.200 metros abaixo da superfície.

Essas piscinas não são como as que vemos na costa. Elas contêm uma água até dez vezes mais salgada do que o mar comum e são completamente desprovidas de oxigênio. Para a maioria dos seres vivos, mergulhar nelas seria fatal. Peixes que por acaso entram nessas áreas são imediatamente paralisados ou mortos pela concentração extrema de sal, atraindo predadores que ficam nas bordas para aproveitar a refeição fácil. Mas, por mais hostis que pareçam, essas piscinas são verdadeiras cápsulas do tempo.

Os sedimentos no fundo desses lagos subaquáticos permanecem intocados por milênios. Sem oxigênio, não há microrganismos para decompor materiais ou animais para revirar o solo. Isso significa que cada camada de sedimento guarda registros detalhados de eventos como terremotos, tsunamis ou grandes chuvas ocorridos há milhares de anos. Para os pesquisadores, é como abrir um livro de história natural escrito em camadas de lama e sal.

Um detalhe curioso é que essas condições podem replicar o ambiente dos oceanos primitivos da Terra, quando a vida começou a surgir em águas sem oxigênio. O professor Sam Purkis, da Universidade de Miami, explica que estudar esses ambientes ajuda a entender não só nosso passado, mas também a buscar vida em outros planetas. Lugares como Europa (lua de Júpiter) ou Encélado (lua de Saturno), que possuem oceanos subterrâneos, podem abrigar ecossistemas semelhantes aos das piscinas de salmoura — ambientes onde a vida consegue se adaptar a condições extremas.

O Mar Vermelho tem cerca de 1.930 quilômetros de extensão, mas menos de 40 piscinas desse tipo já foram identificadas em suas profundezas. As recém-descobertas no Golfo de Aqaba, batizadas de “Piscinas de Salmoura NEOM”, ampliaram o mapa conhecido dessas formações raras. Além do interesse científico, a descoberta também reacendeu discussões sobre um dos relatos mais famosos da Bíblia: a passagem em que Moisés teria dividido o Mar Vermelho para permitir a fuga dos israelitas do Egito, descrita no livro de Êxodo.

Embora não haja evidências científicas que comprovem o evento bíblico, alguns pesquisadores especulam que fenômenos naturais, como recuos repentinos de água causados por terremotos ou tsunamis, podem ter inspirado narrativas antigas. As piscinas de salmoura, por sua vez, mostram como o Mar Vermelho preserva características geológicas únicas, capazes de influenciar até mesmo a cultura humana ao longo dos séculos.

As descobertas no fundo do Golfo de Aqaba reforçam a importância de explorar os oceanos — menos de 20% deles foram mapeados em detalhe até hoje. Cada expedição a essas regiões remotas pode revelar não apenas segredos sobre a evolução da Terra, mas também pistas para desvendar mistérios que unem ciência, história e imaginação.