Triste e abatido: Bolsonaro se diz arrependido por ter plan…Ver mais

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28/09/2025 0 Por jk.alien

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria reconhecido, em conversa com Valdemar Costa Neto, presidente de seu partido, que algumas de suas declarações feitas durante o governo — especialmente no período mais crítico da pandemia de Covid-19 — acabaram se tornando um fardo político. O relato foi trazido pelo próprio dirigente partidário, que destacou um episódio em particular como um dos momentos mais prejudiciais à imagem do então candidato à reeleição em 2022. A admissão de arrependimento, ainda que tardia, evidencia como determinadas falas marcaram a trajetória política do ex-mandatário e se converteram em munição para adversários.

Segundo Valdemar, a declaração que mais pesou ocorreu no auge da crise sanitária, quando Bolsonaro, ao ser questionado sobre o número de mortes causadas pelo coronavírus, respondeu de forma irônica: “Eu não sou coveiro”. A frase, duramente criticada por familiares de vítimas e por opositores, ganhou ampla repercussão na mídia e nas redes sociais, tornando-se um símbolo da maneira como o ex-presidente conduziu a comunicação em meio à pandemia. Para o dirigente do PL, a fala teve efeito devastador junto a um segmento específico do eleitorado: as mulheres.

“Aquilo foi mortal para esse pessoal que tinha parente doente, e principalmente para as mulheres que cuidam das crianças, que cuidam da família”, afirmou Costa Neto em entrevista recente. Segundo ele, a percepção de insensibilidade e falta de empatia afastou eleitoras que poderiam ter se mantido fiéis à campanha de Bolsonaro. O presidente do PL reforçou que o episódio foi um divisor de águas na estratégia eleitoral e chegou a motivar discussões internas sobre a necessidade de equilibrar a chapa com a presença de uma vice mulher.

Apesar do diagnóstico, a aliança firmada para a eleição de 2022 acabou mantendo o perfil militar que marcou o governo Bolsonaro. O escolhido para compor a chapa foi o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil. A decisão, vista como coerente com a base de apoio do bolsonarismo, deixou de lado a possibilidade de atrair o eleitorado feminino por meio de uma vice que representasse outra perspectiva. Para Costa Neto, a ausência dessa figura feminina enfraqueceu a narrativa de renovação que parte do grupo político desejava apresentar.

A campanha à reeleição de Jair Bolsonaro foi marcada por fortes embates ideológicos, polarização e uma constante disputa narrativa com a imprensa. Nesse contexto, cada declaração adquiria peso redobrado. Especialistas em comunicação política avaliam que falas como a do “coveiro” se somaram a outras declarações polêmicas do ex-presidente, alimentando a percepção de que havia pouca sensibilidade diante da dor alheia. Esse tipo de desgaste, em especial junto às eleitoras, pode ter sido determinante para a derrota no segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Hoje, ao admitir arrependimento, Bolsonaro sinaliza uma reflexão tardia, mas estratégica, num momento em que busca preservar espaço político dentro da oposição. O reconhecimento das falhas de comunicação pode ser lido como um gesto de tentativa de reconstrução de pontes, sobretudo com setores do eleitorado que se distanciaram durante a última eleição. No entanto, o desafio permanece: reverter a imagem consolidada de um líder que muitas vezes falou mais para sua base fiel do que para o conjunto da população.

O episódio mostra, ainda, a importância da linguagem e do discurso na política contemporânea. Em tempos de redes sociais e ampla exposição midiática, uma frase mal colocada pode repercutir por meses — ou mesmo anos — e se tornar decisiva em disputas eleitorais acirradas. No caso de Bolsonaro, a lembrança do “eu não sou coveiro” não apenas afetou sua imagem, mas contribuiu para cristalizar a narrativa de insensibilidade que seus adversários exploraram até o fim da campanha. Para 2026, caso mantenha planos de retorno, o ex-presidente e seu grupo político terão de enfrentar não apenas a memória desses episódios, mas também a necessidade de repensar a forma como se comunicam com um eleitorado cada vez mais atento e exigente.