Se Irã e Israel detonarem bombas nucleares, o Brasil seria atingido?

Se Irã e Israel detonarem bombas nucleares, o Brasil seria atingido?

15/06/2025 0 Por jk.alien

A tensão no Oriente Médio atingiu um patamar alarmante. Após um ataque preventivo de Israel contra instalações nucleares iranianas na quinta-feira (12/6), o Irã retaliou com um enxame de drones. O conflito direto, raro entre essas nações, acendeu um alerta vermelho global: o temor de uma escalada nuclear.

Israel mantém um arsenal secreto, mas estimado em cerca de 90 ogivas nucleares. O Irã, por sua vez, é acusado por Israel e potências ocidentais de estar a caminho de desenvolver suas próprias armas atômicas, com alegações de capacidade para produzir pelo menos nove bombas.

Diante desse cenário explosivo, uma pergunta assombra os cantos mais distantes do planeta, inclusive o Brasil: se essas bombas forem detonadas, quais seriam as consequências reais para quem está a milhares de quilômetros do epicentro?

O Poder Assustador das Ogivas Modernas

As armas nucleares evoluíram drasticamente desde os dias sombrios de Hiroshima e Nagasaki em 1945. Acredita-se que Israel possua ogivas semelhantes à americana W-76. Essa é uma arma termonuclear, significativamente mais poderosa que as bombas de fissão da Segunda Guerra Mundial.

Uma única W-76 libera uma energia equivalente a 100 quilotons de TNT. Isso representa um poder destrutivo sete vezes maior que a bomba que devastou Hiroshima. A destruição imediata é inimaginável. No ponto de impacto, uma bola de fogo incandescente vaporizaria instantaneamente tudo dentro de um raio de cerca de 423 metros – uma área equivalente a vários quarteirões de uma grande cidade.

Prédios robustos desabariam como castelos de cartas em um raio de até 9 quilômetros. Pessoas seriam gravemente feridas por estilhaços e queimaduras de terceiro grau atingiriam vítimas em um raio de até 4 quilômetros – imagine cobrir toda a extensão da Avenida Paulista em São Paulo com essa onda de calor mortal.

Simulações realizadas com o projeto Nukemap, uma ferramenta criada pelo historiador nuclear Alex Wellerstein, oferecem uma visão aterradora.

Uma detonação sobre Teerã, capital do Irã, poderia resultar em mais de 650 mil mortes imediatas e mais de 2 milhões de feridos. Se a bomba atingisse Tel Aviv, em Israel, as estimativas apontam para pelo menos 109 mil mortes instantâneas e mais de 220 mil feridos. Esses números, porém, são apenas o começo do horror.

A Ameaça Invisível e Persistente: Radiação e “Fallout”

Além da destruição explosiva e térmica, as armas nucleares liberam uma força silenciosa e letal: a radiação. Imediatamente após a explosão, uma onda intensa de radiação ionizante se espalharia.

Essa radiação é capaz de atravessar paredes e corpos humanos, causando danos severos às células e ao DNA. Em um raio de aproximadamente 1 quilômetro do epicentro, a dose seria letal para a maioria das pessoas expostas.

Mas o perigo não se limita à zona de explosão. A precipitação radioativa, conhecida como “fallout”, representa uma ameaça de longo alcance. Quando a bomba detona perto do solo, enormes quantidades de poeira e detritos são sugados para o ar pela nuvem em forma de cogumelo.

Esses materiais se misturam com os elementos radioativos produzidos pela fissão nuclear. Impulsionados pelos ventos em altitude, essas partículas letais podem viajar centenas, até milhares de quilômetros, antes de cair de volta à Terra como uma chuva invisível e mortal.

Essa poeira radioativa emite radiação por semanas, meses ou até anos, contaminando o solo, a água, as plantações e os animais. A inalação ou ingestão dessas partículas pode levar a doenças graves como câncer (especialmente leucemia e câncer de tireoide), queimaduras por radiação, síndrome aguda da radiação e defeitos congênitos em gerações futuras.

O físico Francisco Gontijo Guimarães, da USP, explica que essa radiação, composta por raios gama e partículas subatômicas, é invisível e difícil de medir com precisão em sua extensão máxima, mas seu efeito é cumulativo: quanto maior a exposição e a proximidade, mais graves as consequências.

O Brasil Está Fora do Alcance Direto? Sim. Totalmente Seguro? Não

Aqui surge um alívio geográfico para os brasileiros. O Brasil está localizado a mais de 10.000 quilômetros do Oriente Médio. Nenhuma arma nuclear existente hoje, nem mesmo a colossal “Tsar Bomba” russa (mil vezes mais potente que a W-76), é capaz de produzir efeitos físicos diretos – como a onda de choque, o calor intenso ou a radiação inicial letal – a uma distância tão colossal.

A atmosfera e a curvatura da Terra atuam como barreiras naturais contra esses impactos imediatos. A radiação direta da explosão simplesmente não alcançaria o território brasileiro.

A ameaça potencial, embora remota e muito reduzida pela distância, viria exclusivamente do “fallout” radioativo. A dispersão dessa poeira depende crucialmente de fatores meteorológicos complexos e imprevisíveis: a direção e a força dos ventos predominantes em diferentes altitudes, a quantidade de material lançado na atmosfera, a altitude da explosão e até mesmo as condições de chuva que poderiam “lavar” as partículas do ar mais cedo.

Especialistas em segurança nuclear e atmosférica concordam que os riscos de contaminação radioativa significativa no Brasil, decorrente de um conflito nuclear entre Irã e Israel, são considerados baixíssimos. A enorme distância permite uma dispersão e diluição extremas das partículas radioativas antes que pudessem chegar à América do Sul.

Os ventos predominantes também não favorecem um fluxo direto do Oriente Médio para o Brasil. Além disso, tratados internacionais, como o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) de 1970 e o mais recente Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares (adotado em 2017, embora não ratificado por todas as potências nucleares), buscam inibir o uso dessas armas.

Os Efeitos Colaterais Globais: Quando o Mundo Treme

Ainda que o Brasil não sofra os horrores diretos da radiação ou da explosão, um conflito nuclear no Oriente Médio, mesmo limitado, desencadearia uma onda de choque global com impactos inevitáveis em todas as nações.

O comércio internacional entraria em colapso imediato. Rotas marítimas cruciais, como o Canal de Suez e o Estreito de Ormuz, seriam interrompidas ou severamente ameaçadas. Isso estrangularia o fluxo de petróleo, gás natural e uma infinidade de produtos essenciais, causando disparada nos preços globais de energia e commodities. A inflação atingiria níveis incontroláveis.

Os mercados financeiros entrariam em pânico. Bolsas de valores despencariam, moedas perderiam valor rapidamente e a confiança no sistema econômico global se evaporaria. Instabilidade financeira extrema seria uma certeza.

A crise humanitária seria monumental. Milhões de refugiados tentariam fugir das zonas de conflito e radiação, criando pressões migratórias sem precedentes em regiões vizinhas e além. A comunidade internacional se veria diante de um desafio logístico e humanitário de proporções épicas.

O meio ambiente global também sofreria. Além da contaminação radioativa local e regional, uma guerra nuclear, mesmo com poucas armas, lançaria enormes quantidades de fuligem e poeira na alta atmosfera. Isso poderia bloquear parcialmente a luz solar, potencialmente causando um resfriamento temporário do clima global (“inverno nuclear”) com efeitos imprevisíveis na agricultura e nos ecossistemas.

Portanto, enquanto o céu brasileiro permaneceria fisicamente intocado pela explosão nuclear, os ventos da crise econômica, da instabilidade política e das convulsões sociais gerados por um evento tão catastrófico no Oriente Médio certamente cruzariam os oceanos e chegariam às nossas praias. A ameaça nuclear, mesmo distante, é uma nuvem que escurece o horizonte de todo o planeta.