Preso em um saco com um “macaco, galinha e cobra”: Assim era uma das piores mortes registradas
17/12/2024No final do século III a.C., as autoridades romanas criaram o que se tornaria um dos métodos de execução mais infames da história. A Poena Cullei, que significa “pena do saco”, surgiu como a punição designada para o crime de parricídio — o assassinato dos próprios pais.
Inicialmente, a prática era relativamente simples, envolvendo apenas uma pessoa condenada e cobras seladas juntas em um saco. No entanto, à medida que a sociedade romana evoluía, o castigo tornou-se mais elaborado e simbolicamente carregado, incluindo outros animais e elementos ritualísticos.
O Simbolismo dos Animais
A escolha dos animais presentes na Poena Cullei não era aleatória — cada criatura carregava um significado simbólico profundo na cultura romana. O macaco, visto como uma imitação grotesca do homem, representava o estado degradado do criminoso que violou as leis naturais ao matar seu próprio pai ou mãe.
O galo simbolizava desapego material e emocional, enquanto o cachorro era associado ao submundo, por sua conexão com Hécate, figura da mitologia grega. A cobra, por outro lado, remetia à figura aterrorizante de Medusa, a górgona mitológica com cabelos de serpentes.
O Processo Ritualístico de Execução
A execução seguia um ritual preciso, projetado para enfatizar a gravidade do crime. O condenado era despido e açoitado antes de ser colocado em um saco feito de pele de lobo — a escolha da pele de lobo simbolizava o comportamento selvagem do criminoso.
Além disso, tamancos de madeira eram adicionados ao saco, acreditando-se que isso cortava a conexão do condenado com a terra. Esses detalhes mostravam a crença romana de que o ritual tinha o poder de purificar a sociedade de um crime tão antinatural. Após o saco ser costurado, ele era jogado em um rio, simbolizando o retorno às águas primordiais, completando assim o ciclo de punição.
Impacto Histórico e Legado
A Poena Cullei teve uma influência que ultrapassou a queda do Império Romano. Registros históricos indicam que a prática se tornou tão difundida que observadores da época chegaram a comentar que havia “mais sacos do que cruzes”. Com o tempo, o escopo da punição se ampliou para incluir crimes contra outros membros da família, como padrastos, tios, tias e avós.
O método foi surpreendentemente duradouro, com casos documentados ocorrendo até o século XVIII. O último caso conhecido aconteceu na cidade saxônica de Zittau, em 1749, pouco antes de sua proibição oficial em 1761. O fato de a prática ter perdurado por quase dois milênios mostra como ela se enraizou profundamente nas tradições legais europeias, apesar de sua brutalidade excepcional.
Além disso, a Poena Cullei negava ao condenado qualquer forma de sepultamento adequado. Os ossos humanos e dos animais no saco se misturavam, resultando em uma indignidade final para o criminoso.
A Poena Cullei e a Sociedade Romana
A Poena Cullei representava mais do que um método de execução — ela refletia a visão romana sobre relações familiares, justiça e purificação ritual. O simbolismo elaborado e a atenção aos detalhes do processo mostravam como as sociedades antigas usavam punições públicas para reforçar os laços sociais e desestimular violações graves do dever familiar.
Durante o reinado do imperador Adriano, surgiu uma variação dessa punição, conhecida como procuratio prodigii ou “afogamento de monstros”. Este ritual visava indivíduos considerados deformados ou de alguma forma marcados como “aberrações sociais”. Essa prática paralela ilustra como o simbolismo de afogamento em um saco foi integrado aos métodos romanos de lidar com aqueles que eram vistos como ameaças à ordem social.
Conclusão
Embora a Poena Cullei tenha sido abolida, sua história nos oferece uma visão inquietante sobre os métodos de justiça e os valores culturais da Roma Antiga. A combinação de crueldade e simbolismo mostra a complexidade das punições romanas e como elas foram usadas para reafirmar a ordem social em uma sociedade profundamente ritualística.