O caso bizarro do homem que sofreu efeito colateral horrível e ficou permanentemente azul

Imagine acordar um dia e perceber que sua pele está gradualmente adquirindo um tom azulado. Parece ficção científica, mas aconteceu de verdade com Paul Karason, um americano cuja vida tomou um rumo extraordinário – e permanentemente colorido – por causa de um suplemento caseiro.

Essa condição rara e irreversível chama-se argyria. Ela ocorre quando partículas microscópicas de prata se acumulam no corpo durante meses ou anos. Esse acúmulo faz com que a pele, especialmente nas áreas mais expostas ao sol como rosto, mãos e pescoço, adquira uma coloração azul-acinzentada. Os olhos, as unhas e até mesmo as gengivas também podem ser afetados. O fenômeno acontece porque a prata reage com a luz solar, criando essa tonalidade única e permanente.

Paul Karason não começou a vida sendo azul. Originalmente um homem de pele clara, ele enfrentava um problema incômodo: uma dermatite persistente no rosto. Foi então que ele encontrou uma solução aparentemente milagrosa – um anúncio sobre os supostos benefícios do uso interno da prata coloidal. Motivado a tratar sua pele, Paul não comprou o produto pronto. Ele mesmo fabricou a solução em casa, usando um processo de eletrólise para dissolver prata em água.

A automedicação se transformou em rotina. Paul começou a ingerir quantidades significativas dessa mistura caseira – calcula-se que ele consumia cerca de 300 mililitros de prata coloidal por dia. E ele manteve esse hábito por mais de uma década.

Curiosamente, Paul não notou a transformação radical da sua pele no dia a dia. Foi preciso um encontro inesperado para que ele percebesse. Um velho amigo, que não via Paul há muito tempo, foi visitá-lo em sua casa no Oregon. Ao se deparar com Paul, o amigo ficou chocado: “O que você tem no rosto?”, perguntou.

Paul, confuso, respondeu que não tinha nada. O amigo insistiu: “Parece que você passou maquiagem de camuflagem!” Ao comparar a própria pele clara com o tom azulado do amigo, Paul finalmente entendeu que algo profundo havia mudado em sua aparência.

Paul Karason afirmou que nem havia percebido a transformação da própria pele até que um amigo comentou (YouTube/Inside Edition)

Paul, no entanto, não via apenas desvantagens no tratamento. Ele relatou à imprensa, como em uma entrevista à ABC News em 2008, melhoras significativas em outros problemas de saúde.

Segundo ele, sua azia crônica desapareceu completamente. Ele também sofria de uma artrite severa nos ombros, a ponto de ter dificuldade para tirar uma camiseta. Para sua surpresa, essa dor também sumiu. Ele atribuía essas melhoras, sem nenhuma dúvida, ao consumo da prata coloidal.

A vida pública de Paul mudou drasticamente depois que sua pele ficou azul. A internet rapidamente o apelidou de “Papa Smurf”. Embora ele supostamente não gostasse muito do apelido, especialmente quando vinha de adultos, relatos dizem que ele sorria quando crianças o chamavam assim. O constrangimento e o olhar constante dos outros o fizeram se isolar cada vez mais.

O americano infelizmente faleceu em 2013 (YouTube/Inside Edition)

Nos seus últimos anos, fumante regular e com saúde debilitada (incluindo uma cirurgia cardíaca de ponte de safena), ele raramente saía de casa, passando a maior parte do tempo lendo livros históricos e assistindo ao History Channel. Só saía para necessidades essenciais, como ir ao banco ou comprar tabaco.

Em setembro de 2013, aos 62 anos, Paul Karason faleceu. Ele foi hospitalizado em Washington após sofrer um ataque cardíaco. Sua esposa, Jo Anna Karason, revelou que ele também desenvolveu pneumonia e sofreu um grave acidente vascular cerebral (AVC). A argyria, condição que o tornou famoso, não foi citada como causa direta de sua morte, mas sua história permanece como um dos casos mais conhecidos e visuais dos efeitos inesperados e permanentes da automedicação com substâncias como a prata coloidal.

Vale ressaltar que órgãos reguladores, como a ANVISA no Brasil, não aprovam o uso interno de suplementos contendo prata devido aos riscos comprovados, incluindo a própria argyria. A busca por soluções caseiras pode, literalmente, deixar marcas para sempre.