
Mistério envolve fóssil de 300 mil anos descoberto na China
24/06/2025
Reconstrução digital do crânio humano de Hualongdong 6, com partes espelhadas em cinza, além de duas raras ferramentas de pedras do sítio. Crédito: Xiu-Jie Wu e Erik Trinkhaus.
Um misterioso maxilar humano fossilizado encontrado em uma caverna no leste da China apresenta características antigas e modernas. O fóssil passou por uma análise detalhada, que o comparou com dezenas de outros espécimes humanos. Segundo o artigo publicado no Journal of Human Evolution, essa descoberta pode representar um novo ramo da árvore genealógica humana, e sugere que o osso de 300 mil anos poderia ter pertencido a uma espécie humana antiga ainda não descrita.
Uma equipe arqueológica realizou escavações em uma caverna chamada Hualongdong, na província de Anhui, no leste da China, e encontrou os restos mortais de 16 indivíduos que datam de cerca de 300 mil anos atrás. Os cientistas conseguiram localizar vários fragmentos de crânio de um jovem com aproximadamente 13 anos.
O crânio foi descrito pela primeira vez em 2019, pela paleoantropóloga Xiujie Wu, do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados de Pequim, e seus colegas. Mas, em 2020, quando a equipe vasculhava bandejas de ossos de animais encontrados na caverna, foi identificado um fragmento de maxilar – parte inferior da mandíbula – que poderia ser outra parte do mesmo crânio.
Na época da descoberta, os pesquisadores destacaram a importância dessa nova descoberta que possibilitou uma análise mais detalhada de onde o povo Hualongdong se encaixava na árvore genealógica humana. Novas análises revelaram que o maxilar apresenta características antigas e modernas.
“O osso ao longo da linha da mandíbula é espesso, uma característica compartilhada com as primeiras espécies humanas, como o Homo erectus. Também lhe falta um queixo verdadeiro, cuja presença é uma característica fundamental do Homo sapiens” (Lewis, 2023).
Antigo e moderno
Após analisar e comparar o maxilar recém-descoberto com 83 outras mandíbulas, os pesquisadores dizem ter aprofundado o mistério sobre quais espécimes humanas antigas habitaram o leste da China durante a época do Pleistoceno Médio ao Final, um período que precedeu o fim da última Idade do Gelo, há cerca de 12.000 anos.
Para a comparação, a equipe de Wu utilizou imagens digitais de maxilares de jovens e adultos Neandertais (Homo neanderthalensis), que habitaram a Eurásia até 40 mil anos atrás, H. sapaiens de todo o mundo, e H. erectus, uma espécie distribuída em uma região que se estendia do leste da África até as ilhas da Indonésia na Ásia entre 1,9 milhão e 250 mil anos atrás.
Os pesquisadores descobriram que o maxilar do H. sapiens tem características diferentes das de outros hominídeos, incluindo as de um denisovano de 160 mil anos descoberto no Tibete, e dos restos mortais do Homem de Pequim de cerca de 770 mil anos. Wu acredita que o povo Hualongdong poderia facilmente representar um ancestral até então desconhecido ou um parente próximo do antigo Homo sapiens. No entanto, a maioria dos pesquisadores não aceita a ideia de que os humanos modernos surgiram de antepassados na Ásia. Os fósseis mais antigos de H. sapiens, com datação de 300 mil anos, têm origem em locais do Marrocos.
Imagem confusa
O paleoantropólogo Yameng Zhang da Universidade de Shandong, na China explica que a ideia da ocupação humana no Leste Asiático durante o Pleistoceno não é clara, e que várias espécies de hominídeos antigos habitaram o Leste Asiático durante o Pleistoceno Médio (cerca de 800 mil a 126 mil anos atrás). Não é possível saber se algum deles poderia ser ancestral dos humanos modernos, eles podem ter simplesmente morrido, diz Zhang.
O estudo demonstrou que a mistura de características antigas e modernas no maxilar de Hualongdong é semelhante às características do fóssil encontrado no sítio arqueológico de Jebel Irhoud, no Marrocos. “Mais fósseis e estudos são necessários para compreender a posição precisa do povo Hualongdong na árvore genealógica humana”, diz María Marinón-Torres, paleoantropóloga do Centro Nacional de Pesquisa sobre Evolução Humana em Burgos.
Fonte: Nature