
Mesmo proibido, cardeal condenado por corrupção insiste que vai participar do Conclave, e explica motivo
23/04/2025
Em 2023, Giovanni Angelo Becciu foi condenado por corrupção pelo Tribunal do Vaticano
Apesar de ter sido condenado à prisão e perder os direitos ligados ao cardinalato, Giovanni Angelo Becciu garantiu que estará presente no próximo Conclave que escolherá o sucessor do papa Francisco. A afirmação foi feita nesta terça-feira (22), em entrevista ao jornal italiano L’Unione Sarda. A participação de Becciu, no entanto, vai contra a lista oficial divulgada pela Santa Sé, que não o inclui entre os eleitores aptos a votar.
Becciu foi afastado de suas funções em 2020, após vir à tona um escândalo envolvendo a compra de um imóvel de luxo em Londres. Na época, o Vaticano comunicou que o papa Francisco havia aceitado sua renúncia aos direitos vinculados ao cargo de cardeal.
As investigações apontaram que, em 2014, mais de 200 milhões de dólares foram utilizados na aquisição do imóvel. Parte desse valor, segundo a BBC, era para ser destinado a obras de caridade. O acordo teria sido assinado por Becciu, que então exercia o cargo de chefe de gabinete do papa. Ainda segundo os investigadores, ele também teria desviado recursos para a diocese de sua cidade natal, na Sardenha, beneficiando seus familiares.

Em dezembro de 2023, o Tribunal do Vaticano condenou o religioso a cinco anos e seis meses de prisão, além da inabilitação permanente para exercer cargos públicos, pelos crimes de peculato e abuso de poder. Apesar da sentença, Becciu recorreu da decisão e permanece em liberdade.
Na entrevista ao L’Unione Sarda, Giovanni Angelo declarou que já está em Roma e que pretende participar do Conclave. Segundo ele, o convite feito pelo papa para que estivesse presente em um Consistório sobre reformas na Igreja, em 2022, comprovaria que seus direitos permanecem válidos.
“O papa reconheceu que minhas prerrogativas de cardeal permanecem intactas, já que não houve uma vontade explícita de me excluir do Conclave nem um pedido para minha renúncia explícita por escrito. A morte, por mais repentina que seja, não pode apagar sete anos de colaboração estreitíssima, de partilha das mais altas decisões eclesiais e pastorais da igreja universal, de amizade e de costumes consolidados”, disse.

Naquele ano, o Vaticano confirmou que Becciu foi de fato convidado a participar do Consistório, mas ressaltou que isso não significava a manutenção de seus direitos de voto no Conclave. A explicação foi que “os direitos do cardinalato não se referem à participação na vida da Igreja”.
Ainda ao jornal, Becciu criticou a lista divulgada recentemente pelo Vaticano que define quem pode votar na eleição papal. Para ele, o documento “não tem valor legal e deveria ser desconsiderado”.
O nome de Giovanni Angelo Becciu ainda aparece como membro do Colégio de Cardeais – grupo composto por 252 religiosos que seguem com funções consultivas e administrativas na Igreja enquanto um novo papa não é escolhido. No entanto, ele está fora da relação dos 135 cardeais com direito a voto. Isso significa que ele pode acompanhar a organização do Conclave, mas não poderá participar da votação.

Giovanni Angelo já foi uma figura central nos bastidores do Vaticano. Ele foi nomeado cardeal por Francisco em 2018 e, durante um tempo, chegou a ser apontado como possível sucessor do pontífice. Mas o escândalo envolvendo corrupção acabou abalando sua posição.
Apesar das acusações, o religioso sempre alegou inocência. Ele também lamentou a mudança de postura de Francisco em relação a ele. “Foi também uma dor imensa ver o papa mudar de repente a sua opinião sobre mim de forma tão radical. Uma dor que aceitei como um teste à minha fé. Agora o papa está na luz do ressuscitado [Jesus Cristo], tendo falecido precisamente durante os dias da Páscoa, e esta certeza conforta-me: agora Francisco vê a verdade dos fatos, sem sombras de dúvidas”, concluiu.