Enquanto Bolsonaro implora para Eduardo se calar, Paulo Figueiredo diz que ex-presidente é “incapaz”

Enquanto Bolsonaro implora para Eduardo se calar, Paulo Figueiredo diz que ex-presidente é “incapaz”

29/09/2025 0 Por jk.alien

Neto do ditador João Figueiredo se revolta com suposto recado de Bolsonaro levado por Sóstenes Cavalcante ao filho nos EUA

A implosão da extrema direita brasileira ganhou novos capítulos nos últimos dias. Jair Bolsonaro, em prisão domiciliar e prestes a iniciar o cumprimento de uma pena de 27 anos e três meses por tentativa de golpe, tem feito chegar a interlocutores pedidos desesperados para que o filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), “feche a boca” e pare de atrapalhar negociações em torno de anistia e redução de sua pena. Proibidos de manter contato direto por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), os dois hoje se comunicam apenas por recados levados por aliados como o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante

Nesta semana, Sóstenes viajou aos Estados Unidos e se encontrou com Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, neto do ditador João Figueiredo e braço-direito do filho de Bolsonaro. O encontro foi registrado em foto publicada pelo próprio Eduardo, com a legenda: “Todos unidos pela anistia”. Nos bastidores, no entanto, interlocutores dão conta de que a reunião também teve a missão de transmitir o recado do ex-presidente para que o filho contivesse os ataques e não atrapalhasse os acordos políticos em Brasília.

Segundo Figueiredo, no entanto, se Bolsonaro de fato pediu silêncio, a mensagem não chegou: “Se [Bolsonaro] pediu [para o filho fechar a boca], o recado não chegou”, escreveu em suas redes.

Ele ainda ironizou as especulações de que Eduardo estaria isolado:

“O desespero agora parece ser que Eduardo Bolsonaro tomou uma ‘enquadrada’ e que está ‘atrapalhando’ e ‘isolado’. Não sei o quanto é ‘wishful thinking’ e o quanto é só mentira mesmo. Mas, em breve, vocês verão se haverá qualquer recuo de nossa parte”.

Longe de recuar, Eduardo tem radicalizado ainda mais o discurso. Instalado nos EUA desde o início do ano, onde articula sanções contra o Brasil e ataca ministros do STF, o deputado reafirmou que não aceita abrir mão da bandeira da anistia em meio às articulações do PL e centrão por um projeto que se limite a reduzir as penas dos golpistas.

“Se a intenção é salvar meu pai, então eu não poderia ser o empecilho ao acordo que (supostamente) o beneficia, certo? (…) É claro que dizer que eu trabalho só para salvar meu pai é uma narrativa fabricada para dizer que não o faço em prol do Brasil. Querem jogar o povo contra nós, na tentativa de nos enfraquecer. Mas sei quem eu sou e não atuo para ser elogiado. Nós venceremos”, escreveu no X.

Nas últimas semanas, o filho 03 partiu para o confronto aberto com o PL e com o próprio Valdemar Costa Neto, presidente do partido. Chegou a se lançar candidato à Presidência em 2026 sem o aval do pai e prometeu disputar até mesmo contra o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de de Freitas, que é cotado para ser o nome da extrema direita ao Palácio do Planalto nas próximas eleições. A postura tem gerado incômodo dentro da legenda e, segundo aliados, irritado ainda mais Bolsonaro, que vê a beligerância do filho como um obstáculo à tentativa de costurar uma saída negociada para sua situação jurídica.

Paulo Figueiredo: “Bolsonaro é incapaz”

Paulo Figueiredo reforçou publicamente o discurso de que Bolsonaro já não tem condições de liderar. Ao republicar um texto de um bolsonarista no X, Paulo Figueiredo endossou:

“Hoje, o presidente é um homem sequestrado. É uma vítima presa, doente e incapaz de decidir. Nessas condições, ele não tem como liderar nem como orientar”.

Reprodução/X Paulo Figueiredo

Em outro tuíte, insistiu na tese de que Bolsonaro não pode negociar a própria saída:

“Não é muito complexo: Se você considera Bolsonaro um refém, então não pode esperar que ele negocie os termos da própria soltura. Se você não o considera um refém, então não entendeu nada do que está acontecendo”.

Reação da esquerda

As brigas públicas foram comemoradas pela oposição. O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, comparou a situação a um escândalo mafioso:

“Gente, fogo no parquinho, a extrema-direita está desorientada. (…) Jair Bolsonaro pede a interlocutores que conversem com o seu filho, para que ele feche a boca e não atrapalhe as negociações políticas em torno da anistia (…). Já Eduardo Bolsonaro está dizendo para todo mundo, que Bolsonaro não tem condições de avaliar direito ao quadro político por estar hoje na condição de refém. (…) Jair Bolsonaro é uma vítima presa, doente e incapaz de decidir. (…) Imagina, você sai de 27 anos e três meses de condenação com seis anos de regime fechado para um ano e sete meses em prisão domiciliar numa mansão de luxo, e o Bolsonaro aceitou. Isso parece coisa de Pablo Escobar, lá na Colômbia. Gente, isso aqui é desmoralizante. Parece uma coisa de mafioso”, disse.

Veja vídeo: 

O resultado desse enredo é um bolsonarismo em frangalhos. De um lado, Bolsonaro implora por silêncio para salvar o próprio pescoço; de outro, Eduardo e Paulo Figueiredo insistem em sabotar qualquer acordo, acusando o ex-presidente de estar “incapaz” de decidir.