Manuscrito 512 e a “Cidade Perdida da Amazônia” (Vídeo)
19/01/2023Como se fosse uma história de Lovecraft, a seção de Obras Raras da Biblioteca Nacional do Brasil guarda zelosamente um estranho documento de dez páginas batizado com o sugestivo nome de Manuscrito 512.
Narra uma expedição do século XVIII durante a qual foram descobertas as ruínas de uma antiga cidade que parecia ter desenvolvido uma civilização clássica de estilo mediterrâneo.
Há uma feroz controvérsia sobre sua veracidade, mas o Manuscrito 512 era tão fascinante que dois famosos estudiosos do século XIX se interessaram por ele: Sir Richard Burton e Percy Fawcett.
Tudo começou em 1839, quando um naturalista de nome Manuel Ferreira Lagos encontrou por acaso aquela insólita peça sem autoria explícita e intitulada, à moda da época, «Relação histórica de huma oculta, e grande Povoação, antiguissima sem moradores, que se descobriu não ano de 1753».
Entregue ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, sua revista oficial publicou um exemplar com uma contextualização do século XVIII em que narrava a história dos bandeirantes (aventureiros que entravam na selva para caçar escravos ou fazer fortuna) que entravam busca de algumas supostas minas encontradas no início do século XVI por Muribeca.
O descendente de um náufrago chamado Diogo Álvares Correia (uma espécie de Gonzalo Guerrero na versão portuguesa) era conhecido por esta alcunha, e que se recusou a confessar a localização exacta das referidas jazidas (embora outras versões atribuam uma identidade diferente a Muribeca, como Belchior Dias ou seu filho Roberto).
Naquela primeira metade do século XIX, o Brasil acabava de conquistar sua independência de Portugal e, como costuma acontecer nesses casos, precisava de alguns alicerces para sustentar a nova nação, misturando elementos históricos e mitológicos, por isso o Manuscrito 512, como diz homem estranho havia sido batizado.documento, foi considerado bom.
O fato de antigas cidades pré-hispânicas esquecidas começarem a ser descobertas naquela época incentivou a descoberta de algo semelhante em território brasileiro que desse força ao estado recém-nascido como cultura anterior, ao invés das simples e primitivas tribos amazônicas.
De hecho, circulaban multitud de leyendas de ese tipo, fruto de la fantasía de los bandeirantes y de la mezcla con las historias de palenques y quilombos (asentamientos de esclavos cimarrones, algunos de los cuales crecieron extraordinariamente hasta llegar a ser auténticas urbes ocultas en la selva, con alguno de sus jefes autoproclamado rey).
Segundo o Manuscrito 512, escrito como se fosse uma espécie de diário ao longo de dez anos, uma expedição de bandeirantes portugueses entrou no sertón (uma vasta região do nordeste brasileiro) em busca das já mencionadas minas de Muribeca.
Eles haviam feito várias missões séculos atrás com esse propósito, mas nunca encontraram nada além de algumas pedras preciosas que não fizeram mais do que excitar ainda mais a imaginação: se Muribeca tinha um tesouro fantástico nas montanhas de Itabaiana, se ele desceu a Salvador da Bahia para vender as pedras preciosas, que se tivesse vindo ao encontro do próprio Felipe III para pedir um título nobre e o rei tentou enganá-lo, acabando por executá-lo, etc.
O fato é que, em busca dessa versão brasileira do El Dorado, os expedicionários se depararam com uma cidade velha corroída pela vegetação rasteira que rompia com tudo o que se conhecia naquelas latitudes: grandes prédios, estradas asfaltadas, arcos, relevos, estátuas… Eles até avistou uma canoa com dois homens de pele branca vestidos à moda europeia que fugiram às pressas.
El enigmático texto del manuscrito se completa con algunos detalles curiosos, como la reseña de haber encontrado una bolsa con monedas de oro que llevaban inscrita la silueta de un arquero y una corona, o la reproducción de unos jeroglíficos copiados de varios rincones de la ciudad a los que algunos ven cierto parecido con letras griegas y fenicias.
Con todo esto, y teniendo en cuenta la mencionada coyuntura de la búsqueda de una identidad ancestral para Brasil, se organizaron algunas expediciones que, siguiendo el relato, intentaran encontrar la fabulosa ciudad.
A mais importante foi a que saiu em 1840 sob o comando do cônego Benigno José de Carvalho e Cunha que, depois de colher muitos depoimentos de pessoas que haviam percorrido a região, e com esforço de seis anos, não encontrou absolutamente nada mais do que boatos que tornavam o assunto ainda mais fantasioso, no caso das referências a um dragão que vigiava o local.
O padre ainda não havia retornado quando em 1848 um soldado chamado Manoel Rodrigues de Oliveira também partiu em busca da cidade desconhecida e voltou com o mesmo resultado negativo. A ilusão que desencadeou aquela história começou a desmoronar.
Assim se passaram algumas décadas e em 1865 chegou ao Brasil Sir Richard Burton, o famoso explorador que, juntamente com John Hanning Speke, havia liderado uma famosa expedição à África central em busca das nascentes do Nilo; Speke pensou que os encontrou no lago Victoria, e Burton pensou que não.
Essa polêmica, que terminou com a morte de Speke, significou o ostracismo para Burton, que a partir de então só poderia ocupar os penosos cargos secundários de cônsul britânico, primeiro em Fernando Poo (Guiné Espanhola) e agora em Santos (estado de São Paulo). ).
Em ambos os destinos, ele passou mais tempo explorando do que em seu trabalho administrativo e, como era de se esperar, sua estada no Brasil foi feita em viagens pelo interior.
Por supuesto, supo del Manuscrito 512 y probablemente aprovechó alguno de aquellos periplos para ver si descubría algo. No lo hizo pero, a cambio, su esposa tradujo el documento al inglés y él incluyó dicha traducción en un libro que publicó narrando su paso por Brasil: Explorations of the highlands of Brazil.
No obstante, aún quedaba otro británico dispuesto a dejarse llevar por las ensoñaciones del Manuscrito 512: Percy Harrison Fawcett, un coronel nacido precisamente el año en que Burton desembarcó en América y que en 1921 organizó otra expedición más por el interior del país.
Na verdade, Fawcett não estava exatamente procurando a cidade descrita no manuscrito -na verdade, seu percurso não era por aquela região do nordeste, mas por Mato Grosso-, que ele chamou de Ciudad de Raposo, mas outra que ele batizou de Z, embora ele não descartou a possibilidade de que fosse o mesmo.
Não se sabe que fonte este peculiar aventureiro usou para procurar por Z, mas sabe-se que ele também carregava o Manuscrito 512 porque outro ex-cônsul britânico afirmou ter visto uma cidade que correspondia à descrição do documento.
A expedição, que também incluía o filho de Fawcett e um amigo dele, nunca mais foi ouvida e só recentemente foram encontrados alguns objetos que eles carregavam, especulando-se que provavelmente morreram nas mãos dos índios. Em todo caso, desde então seu misterioso desaparecimento deslocou o interesse da cidade do manuscrito.
Múltiplas explicações têm sido buscadas para isso: deixando de lado a ousada hipótese da chegada de um navio de uma das antigas civilizações mediterrâneas, o caso da Fenícia (conforme deduzido do alfabeto das moedas), Hitita (pela Pedra de Ingá , uma gigantesca estela com gravuras que alguns consideram semelhantes à linguagem daquela vila) ou romana (revisão do documento sobre arcos triunfais)
Da odisseia pessoal de João da Silva Guimarães (militar que em 1720 descobriu algumas minas que mais tarde se revelaram inúteis, ficando a viver com os índios), à de António Lourenço da Costa (que passou uma década na região coincidindo cronologicamente com a expedição descrita pelo texto)
Ou, mais racionalmente, o facto de naquele iluminado século XVIII a arqueologia ter dado os seus primeiros passos notáveis, tendo descoberto sítios impressionantes como Pompeia e Herculano, algo posteriormente ampliado com o aparecimento de Palenque e outros vestígios pré-colombianos. Da história ao mito; ou vice-versa.