
Na UTI, Bolsonaro ri e volta a desdenhar da morte do papa Francisco; veja vídeo
23/04/2025
“Eu lamento a morte, como lamento a morte de qualquer pessoa… qualquer pessoa não, né?”, disse Bolsonaro, rindo, ao ser indagado por Cesar Filho, do SBT, sobre a morte do Papa Francisco.
Mostrando boa disposição, bem diferente da foto mórbida que publicou nas redes sociais no domingo (20), Jair Bolsonaro (PL) voltou a desdenhar da morte do Papa Francisco em entrevista ao vivo ao SBT, de dentro da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, na noite desta segunda-feira (21).
Após confessar que será beneficiado pelo PL da Anistia, o ex-presidente foi indagado pelo apresentado Cesar Filho sobre o legado na Igreja Católica de Mario Jorge Bergoglio, o papa Francisco, cuja morte causa comoção em todo o mundo.
Bolsonaro, no entanto, desdenhou sobre o fato e chegou a rir em seu breve comentário.
“Eu lamento a morte, como lamento a morte de qualquer pessoa… qualquer pessoa não, né?”, disse, rindo da própria escorregada. “Grande parte das pessoas pelo Brasil afora ai”, emendou.
“Mas, é um momento lamentável. Quero, obviamente, que a fumaça branca apareça novamente mais rápido possível no Vaticano”, concluiu, novamente sem se referir ao nome do papa.
Incitação
Bolsonaro foi um dos primeiros políticos a publicar na rede X, por volta das 6h30, um comentário sobre a morte de Francisco, ocorrido na madrugada desta segunda-feira.
Em um texto frio e calculista, para não desagradar os seguidores radicais nas redes, o ex-presidente sequer citou o nome Francisco, adotado pelo argentino Jorge Mario Bergoglio ao assumir a liderança da Igreja Católica em 2013. Bolsonaro se limitou a falar da “figura do Papa”.
“O mundo e os católicos se despedem daquele que ocupava uma das figuras mais simbólicas da fé cristã: o Papa. Mais que um líder religioso, o papado representa a continuidade de uma tradição milenar, guardiã de valores espirituais que moldaram civilizações”, iniciou Bolsonaro, que se recupera de uma cirurgia no intestino.
No texto, o ex-presidente, que sempre atacou Francisco – considerado um papa “comunista” pelos bolsonaristas -, falou da “figura do Papa”.
“Para o Brasil e o mundo, a figura do Papa sempre foi sinal de unidade, esperança e orientação moral. Sua partida nos convida à reflexão e à renovação da fé, lembrando-nos da força da espiritualidade como guia para tempos de incerteza”, emendou.
A publicação incitou comentários de aliados radicais que, assim como Bolsonaro, não nutrem quaisquer simpatia por Francisco, que dedicou a vida aos pobres e oprimidos e no papado defendeu os direitos da população marginalizada, como homossexuais, e do povo palestino frente ao genocídio promovido pelo governo sionista de Israel em Gaza.
“Esse papa era estranho. O papa João Paulo II era realmente um PAPA”, comentou um seguidor. “Adios Comuna! Já morreu faz tempo! Papa de verdade era Papa João Paulo”, emendou outro, puxando o coro de “papa comunista” na publicação do ex-presidente.
Ataques ao papa
Em diversas ocasiões durante seu mandato – e fora dele -, Bolsonaro atacou frontalmente o papa.
Um dos ataques mais emblemáticos foi quando Francisco exortou “ao mundo inteiro para ajudar a despertar a estima e solicitude pela Amazônia, que também é nossa”, em meio aos incêndios na floresta em 2020. A declaração foi feita após a divulgação do documento “Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia”, que pedia a proteção da floresta.
“Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida. #QueridaAmazonia”, escreve o papa na rede X, então Twitter.
Em uma de suas tradicionais lives, Bolsonaro partiu para cima do papa dizendo que “a Amazônia é nossa. Não é como o Papa tuitou ontem, não, tá?”.
“Não pega fogo floresta úmida. Ninguém fala na Austrália. Pegou fogo na Austrália toda, ninguém fala nada. Cadê o sínodo da Austrália? O papa Francisco falou ontem que a Amazônia é dele, do mundo, de todo mundo”, atacou no “cercadinho” do Planalto, em que falava com aliados radicais.
“Por coincidência, estava aqui com o embaixador da Argentina eu disse: O papa é argentino, mas Deus é brasileiro”, emendou..
Na morte de Bento 16, em 2022, Bolsonaro voltou a alfinetar Francisco, em tuite que diz que “Em defesa da verdade do Evangelho, [Bento 16] criticou sem medo os erros da chamada teologia da libertação, que pretende confundir o Cristianismo com conceitos equivocados do marxismo”.